domingo, 16 de agosto de 2009

Nadador noturno

Um som de piano no ar. Os cabelos molhados, batendo na altura da terceira vértebra cervical. Os pingos, frios, escorrendo na pele que teima em estar quente, ainda assim. É a noite. É o reflexo da lua. É a matéria abstrata da melodia, incomparável, pois nada pode ser tão bonito quanto o que não se toca. A árvore frondosa pertence ao chão em que está enraizada. O quadro pertence à parede em que se fixa, pra que fique visível a nossos olhos. A melodia pertence ao mundo. Pertence ao vento, quem sabe. A cabeça agora se debate, como o corpo de um cachorro após o banho, pra que os pingos ganhem vida, numa tempestade mansa. Olhos fechados pro mergulho. A escuridão é quase total. Mas está lá o sol, do outro lado do mundo, ajudando a enxergar por aqui do jeito mais bonito, pois que sem tanta precisão, sem que precise ofuscar. Um corpo nu brinca na água, do modo mais puro, retrodevolvido ao ventre materno. E se arrepia, mas não é frio, nem medo. É só a emoção do reencontro. É só um corpo, deposto das roupas, chorando por ser outra vez o que foi desde sempre. E nada, desengonçado como deve ser na água um corpo sem guelras ou natatórias. Um corpo humano, na água, no quase-breu. É só isso que ele é. E brinca, enquanto faz poesia sem saber.

* Depois de ouvir "Nightswimming" do R.E.M.

2 comentários:

  1. EEEEEE!!!! Olha o Fê aí, gente!!!!

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  2. Lindo final de semana...a magia da noite, a estrada, a música tocando e vc cantando... Tudo sempre irresistivelmente apaixonante... Achei a partitura dela...Agora só falta achar o piano pra tocar pra vc...rs... Beijosss na boca, anjo!!!

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