Um som de piano no ar. Os cabelos molhados, batendo na altura da terceira vértebra cervical. Os pingos, frios, escorrendo na pele que teima em estar quente, ainda assim. É a noite. É o reflexo da lua. É a matéria abstrata da melodia, incomparável, pois nada pode ser tão bonito quanto o que não se toca. A árvore frondosa pertence ao chão em que está enraizada. O quadro pertence à parede em que se fixa, pra que fique visível a nossos olhos. A melodia pertence ao mundo. Pertence ao vento, quem sabe. A cabeça agora se debate, como o corpo de um cachorro após o banho, pra que os pingos ganhem vida, numa tempestade mansa. Olhos fechados pro mergulho. A escuridão é quase total. Mas está lá o sol, do outro lado do mundo, ajudando a enxergar por aqui do jeito mais bonito, pois que sem tanta precisão, sem que precise ofuscar. Um corpo nu brinca na água, do modo mais puro, retrodevolvido ao ventre materno. E se arrepia, mas não é frio, nem medo. É só a emoção do reencontro. É só um corpo, deposto das roupas, chorando por ser outra vez o que foi desde sempre. E nada, desengonçado como deve ser na água um corpo sem guelras ou natatórias. Um corpo humano, na água, no quase-breu. É só isso que ele é. E brinca, enquanto faz poesia sem saber.
* Depois de ouvir "Nightswimming" do R.E.M.
domingo, 16 de agosto de 2009
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EEEEEE!!!! Olha o Fê aí, gente!!!!
ResponderExcluirLindo final de semana...a magia da noite, a estrada, a música tocando e vc cantando... Tudo sempre irresistivelmente apaixonante... Achei a partitura dela...Agora só falta achar o piano pra tocar pra vc...rs... Beijosss na boca, anjo!!!
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