terça-feira, 28 de julho de 2009

Músicas da Minha Vida

Esta é a série que abordará algumas canções que me reportam, me levam, me transportam até dias, imagens, passagens que, também por elas, nunca poderei me esquecer. Começa aqui e divide espaço com a programação normal, e com a série sobre fotos, também.

George Harrison - That Is All
Youtube dela: http://www.youtube.com/watch?v=fY3ZvRfMcU0

Se não tive a ventura de viver com meu pai, tive tios lindos pra compensar. O Marcílio, o "Formigão", é o único que se foi, e ele é pai do meu parceirinho de blog.

Não há como ver uma corrida de Fórmula 1 e não se sentar no sofá como se fosse ele. Beatles era sua paixão, e seu inglês era cheio de um sotaque próprio.

Lembro que, depois de muito tempo, falei com ele ao telefone, no dia que o George Harrison morreu. E acho que o assunto era esse mesmo. Harrison era seu preferido, eu acho. Ao menos os dois amavam Fórmula 1.

Esse tio tinha um vozeirão que preenchia a casa. Quando se separou da mulher que amou, perdemos seu convívio. E a história da canção se passa antes de ele morrer, bem antes, na verdade. Eu tinha uns 16, ou 17 anos, não posso precisar.

De vez em quando ouvia música com os vinis na sala. Coloquei esse disco, gostava de umas baladas. Estava tocando essa música, que devia ser a última de um dos lados. E meu outro tio, o Feu, chegou em casa.

Este tio sempre morou comigo, mas sua voz não é tão grave, ele não é assim expansivo. Eu estava distraído mas ele se ateve à música. "Caralho, essa é a música do Formigão", disse ele. E apoiou uma das mãos na mesa de jantar.

Foi a primeira vez que vi meu tio chorar. Discreto, como ele sabe ser. Foi a primeira vez que me dei conta da falta que um parente pode nos fazer em vida.

Porque ele morreu depois, como minha vó e meu vô também já tinham morrido. E não ter recursos para ir contra isso pode ser mais leve. Fiquei pensando que aquela cabeça chorava de uma saudade de dor diferente.

Uma estrada, por mais longa que seja, ou mesmo um oceano inteiro, nos parece, estupidamente, muito mais perto do que a distância entre quem ficou e quem partiu, entre chão e além.

Fiquei no meio de uma canção devastadoramente linda, e um peito saudoso de adulto. Eu era um menino. Mas até hoje me arrepio só de ouvir o primeiro acorde desta.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

1 ano

Querido Bindi,

Faz um ano que nos despedimos.
Não eu e você. Você e todos nós.
Senti saudades em alguns momentos cruciais.
Penso em sua esposa, sua mãe, sua cã.
Relativizar o vazio de quem perde pode ser muito doloroso.
Passou um ano, meu amigo.
Eu tive que sair do trabalho naquela noite.
Tive que explicar quem era você pra mãe, pra mulher.
Chorei no jogo do nosso time, e no meu time de várzea.
Me choquei com sua partida, mais do que poderia supor.
Ainda não entendo a lógica de algumas coisas.
Sua religiosidade me ensinava a não exigir lógica.
Sem opção melhor, Bindi, positivei a saudade.
Coloquei sua conduta como parâmetro pra minha.
Decidi que o que viesse em minha carreira, dedicaria à você.
Deus fez mais. Desenhou uma chance pra que eu prove.
Veja você que temos hoje mais amigos em comum do que antes.
Trabalho, hoje, onde você escrevia, e onde eu te lia, sempre.
É meu começo, e eu não poderia estar mais aquecido.
E suspeito que preciso, mais que dedicar, agradecer você.
É pena que não tenha dado tempo para mais.
Eu precisava, e teria amado, te ouvir mais, mais tempo.
Passou um ano.
Não tenho notícias de ter aparecido um profissional semelhante.
Na minha vida, não apareceu ninguém semelhante.
Por aqui, é como eu já disse um ano atrás.
Vamos em frente.
E mesmo que tudo dê tão certo, tão bem, tão lindo,
seria melhor com você.
Tua falta é cala um segundo de cada grito alegre meu.
Como tantas ausências nos deixam passos atrás.
O saldo, contudo, é positivo.
Você tem asas, meu amigo.
Ontem, o Palmeiras perdeu. Roubado em Goiás. De novo.
Esse foi o último jogo que viu, aqui conosco, ano passado.
O mesmo script.
Pra te mostrar que algumas coisas nunca mudam.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

As Fotos de Minha Vida - 1

Começa aqui uma nova série. Fotos de minha vida. Pensei nisso quando peguei uma foto que não sabia que existia.

E que é esta da abertura.

De sentido forte, pesado, até. A série vai abordar momentos dos mais distintos. E, como em outras séries já feitas, tentará ser absolutamente sincera e vulnerável.

Pois vai retratar momentos, e não o presente. São retratos, afinal de contas.

Não sabia, e não a vi sendo tirada. Trata-se do fim do Carnaval de 2009, ápice do meu trabalho, cujo qual esperava por todo o ano. Me recordo perfeitamente desse momento. De ter encostado nessa grade. Minha canela e pés estavam molhados. Eu, exausto, em erupção.

Meu cabelo começava a crescer. Eu o havia raspado, quando uma sucessão de coisas invadiram minha cabeça - o cabelo, que tanto me apego, pagou o pato -, e eu desesperei. Resumidamente, num período curto de tempo, minha vida estava normal, e tornou-se ideal, e desabou para o mais caótico patamar.

Nos 5 meses entre hoje e esta foto, já cresci uns 15 anos, então já estou maduro pra escrever sobre isso sem fricotes e coitadices: eu tinha perdido minha noiva.

Foi duro, é óbvio. Deus sabe de minhas noites no hotel em que ficava confinado nos dias do Rei Momo. Foi a única vez na vida que, admito envergonhado, pensei concretamente em acabar com tudo. O carnaval não me deixou respirar. Trabalhei vertendo lágrimas.

E não era só isso.

Era o meu último carnaval como assessor de imprensa. Precisava de algo maior, pela vida que projetava, pra ter dinheiro, pra apostar, correr um risco. Era a hora certa. mas alí, na avenida vazia depois da última escola de samba, eu senti o vazio.

Fui buscar minha mochila na sala de imprensa, e, voltando, parei onde estou na imagem. Alí é o camarote. Onde tanto trabalhei, tão sujo e com pessoas felizes, entre elas mamãe, mas eu não queria entrar lá e tomar meu merecido chopp. Foi um tsunami, a seco.

Sabia que ia me demitir nos dias seguintes. As obrigações saíram de minha frente. E não havia mais nada. Não era capaz de imaginar como seria chegar em casa depois de 6 dias. Em 6 dias, violentei um banheiro de hotel, fui covarde e agredi um sujeito comum, e ninguém ficou sabendo.

De lá pra cá, aprendi a dobrar os joelhos, pra pedir paz interior, e, se desse, pras coisas ficarem parecidas com o que eram. Tomei um porre de cair - e caí - , chorei de rolar na calçada debaixo de um dilúvio, e ninguém soube. Viajei, comprei uma coisa que sonhava, descansei sem culpa, e o tempo foi passando. O cabelo crescia e eu não punha a mão. Duvidei do jornalismo, como duvidei de mim mesmo.

E, depois de tudo, é que fui descobrir essa foto. Foi um arrepio. Esse momento é daqueles em que há um "rec" na mente. Eu estava desolado, na verdade. Mas orgulhoso de não ter deixado ninguém na mão.

Eu tinha sobrevivido. Só não sabia o que iria ser dalí pra frente. De certa forma, ainda não sei. Mas naquele momento, eu só conseguia pensar que a minha vida, depois que eu me descolasse daquela grade, não seria mais da forma como eu a conhecia.

Como, de fato, não foi.

É a imagem do fim da época mais legal da minha vida.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Redentor

Eu já me perguntei tanto que nem sei.
Coisas a meu respeito,
sobre porquê tudo tem que ser tão difícil o tempo todo.
Lembro de um menino que tinha medo de morrer.
Lembro de como eu ria,
vejo no que eu me transformei,
e como seis meses podem passar tão rápido.
E como podemos ser tão inábeis.
Continuo caótico.
Perdi a cara de criança.
Gostava de imaginar que crescer era,
antes de tudo, conduzir algo, alguma coisa.
Mas a gente só é levado, induzido.
E isso é mais do que só sorte ou azar.
Me pergunto mesmo qual a lógica,
qual ensinamento eu posso tirar de mim mesmo.
Se apanhando assim eu vou estar preparado.
Se perdendo eu vou aprender a ganhar.
Acontece que chega.
Já ganhei coisas na vida.
Não são tão boas assim.
Não tão boas a ponto de tanto se jogar,
e se jogar, e se jogar, e se jogar,
por deus, já tenho sequelas suficientes.
O empate faz mais sentido.
Tem a ver com meu signo. Prevê igualdade.
E eu sempre detestei ser desigual.
Mas eu gostava de ter sonhos.
Acreditava na redenção, minha e de quem eu quisesse.
Não existe redenção.
Não enquanto eu quiser que tudo tenha sentido.
Ser a mãe de mim mesmo e ignorar meus erros
seria um facilitador importante.
Minha redenção é sair do jogo.
ha ha ha, não me proponho mais, estou fora.
Sem jogo, sem derrota, sem vitória, sem desgaste.
O que vier, é inesperado. Não tem o oposto disso.
Hoje sou mais áspero, mais espesso,
mais espinhoso. Mais sozinho.
Mais sério, menos móbil, menos hábil.
É resultado de uma estranha soma entre o que fui,
comparado ao que queria ter sido.
Não quero ser nada. O que rolar, rolou.
Seja o que for, era melhor não ter tentado.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

nham

Um em cima do outro,
grosso e fino,
complemento e mimo.

dois em um,
um com o outro,
um sem outro é
dois nenhuns.

corpo quente no colchão,
olhos virados,
delírio sem nexo,
enquanto, num urro,
ronco igual leão.
(que foi, achou que era sexo?)