terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eu gosto do Rio de Janeiro
(da Zona Sul)
Você gosta de São Paulo
(na Vila Madalena)

-Que pena.
-Vai tomar no cu

sábado, 19 de setembro de 2009

29 de fevereiro

Logo ao acordar, fui comprar pastéis, falei ao telefone com meu primo, e abri conta numa nova locadora de filmes. Dei boas risadas por esquecer de pagar os pastéis. A balconista da locadora se chama Ana Paula.

Foi um dia inesquecível. Joguei futebol e fiz o gol do meu time, além de ver meu melhor amigo. Do campo pro trabalho, e como é bom lembrar que, seja o que for, trabalho com o que sempre sonhei, e até parece que meus planos eram mesmo infalíveis.

Tive um presente de noite, por poder jantar com minha mãe, com meu padrinho, sem me preocupar com nada. Era aniversário de morte do meu avô, mas isso na verdade me esquenta por dentro. Um amigo do Rio me liga, está por aqui e quer me ver.

Pessoas querem me ver! Furei. É bom ter com quem furar. Até parece que sou atarefado. Comi o que mais gosto de comer. Nesse fim de semana o Palmeiras não joga, e faz algum tempo que eu nem queria mesmo.

Em casa, me peguei assistindo ao filme que aluguei, e a mãe, e o padrinho, e a cã, todos dormindo leves ao meu redor. Me enxerguei saudável, jovem, e com um dia perfeito, e feito por mim, não pelo acaso, encerrado.

O filme mostrava uma vida caótica de um menino bom. Que passa um ano no hospício e só assim é capaz de chorar com uma vista bonita. Sabe, eu posso não causar emoções arrebatadoras na vida dos outros, tampouco causo na minha.

Mas é que eu sou só isso mesmo. Devia ter nascido num 29 de fevereiro. Por um momento está tudo perfeito, embora minha grana não me permita uma viagem prometida e meu trabalho me impeça de isso ou aquilo, pouca coisa.

Por um dia. Não sou de fases longas. Sou de dias. Um aqui, outro lá. Hoje foi um baita dia. No além e na terra, no campo e na sala de casa. Na cabeça e no coração. Mas esses baitas dias sofrem aquilo que você sabe: a desaceleração.

Quando eles terminam eu sento na cama e desacelero. E sinto uma dor traumatizante. A desaceleração de um dia é um dejavú de minha vida. Resumidamente, o dia acaba e eu estou sozinho.

Não que isso seja um problema. Mas é, quando tu te faltas a ti mesmo. Nunca gostei de ir dormir, porque é a hora da solidão completa. Mas entre um tênis e outro que tiro do pé, noto que toda essa perfeição não me conquista.

Falta algo que não se explica. E não sinto isso em desespero, ou chorando, ou pedindo a deus pra ser diferente. Eu constato, seco, e só.

O dia poderia ter sido muito pior, contanto que eu não sentisse isso sempre que fosse tirar as meias dos pés. Eu trocaria.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Setembro

Chegou setembro. Hora de achar uma hora pra passar na minha rua e visitar a amoreira que plantei em frente à antiga casa. Me sinto um insensível se deixo passar um ano sem visitá-la, mas sou insensível de toda forma, porque nunca desci do carro nas visitas.

O asfalto não vai ser como era se eu pisá-lo agora. Se eu acender um cigarro e contemplar, nada há de acontecer com o palato que sente aquelas amoras tão mortalmente reais em dias impossíveis.

Mas eu poderia, claro, ao menos olhar pra ela, ou pra sombra dela. Espiar o portão da Dona Terezinha, talvez tentar saber se ela está viva. Não deve estar. Nem os sonhos do neto dela, de ser piloto de avião. A amoreira, entretanto, aparentemente está viva e saudável.

Lembro que plantei. Reguei. Dona terezinha ensinou. Depois disso me foge qualquer lembrança, até que eu apareça já grandinho. Ela era a marca, a estrela da rua. Nunca paguei um centavo para ter amoras. Ela me servia. Como serviu a centenas, milhares, velhos e crianças.

Eu poderia descer do carro, correr e subir nela. Encher as mãos de amoras. Não faço, porque sei que a vida já ficou previsível demais pra mim. Tudo morre um pouco quando você encontra numa prateleira.

Não subo na amoreira porque não vai ser divertido como era.

Mas também não posso esquecê-la.

Não posso ser curioso sobre o que já perdeu a magia.

Já já chega dezembro, e sinto o mesmo com o mar que um dia mergulhei.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Afavordições

E por sobre as lágrimas, concreto
Fechando a fonte das tristezas
E por sobre as dúvidas, decretos
Pintando tudo com certezas

E por sobre os risos, os martelos
Estraçalhando as ilusões
E por sobre os sinos, violoncelos
Melancolizando as emoções

E por sobre nós, nada de novo
O mesmo sol e a mesma lua
E por sobre vós, nenhum socorro

Nenhuma polícia em vossa rua
Sobre nós todos a mesma contradição
A mesma vontade de afirmar dizendo não

domingo, 23 de agosto de 2009

Ajeitando a difícil balança dos desejos

Sem prejuízo da minha sanidade, eu quero amar. Sem ficar cego ou ficar mudo, eu quero ouvir. De cada música, uma nota que seja. A mais bonita. Ou a mais feia, a mais torta, mas que me toque. Sem ceder em nada da minha pureza, eu quero sexo. Do tipo que traz urros e arranhões, junto com risos e certezas. Sem abrir mão da minha paz, eu quero a estrada. O néctar que rodeia o mundo, mas volta sempre pro mesmo lugar. Eu quero a incerteza também, mas a incerteza que tem volta pro meu ninho. Sem abdicar de ser livre, eu quero o colo de minha mãe. Sem esquecer da minha auto-piedade, eu quero um choro precioso numa tarde qualquer. Mesmo que seja de sol. Sem deixar pra trás meu metodismo, quero a tontura de um bom álcool pelas veias. Quero a loucura, sem esquecer que eu sou menino bem criado. Sem lançar mão de hipocrisias, quero abraçar o mundo inteiro. Sem vomitar demagogia, quero ser bom, ao menos na metade do tempo. Sem negligenciar minha poesia, eu quero uma piada bem suja, uma conversa bem rasa, um filme bem não-profundo. Sem apelar pra gargalhada, eu quero um riso constante. Sem afastar as emoções, nem a verdade, eu quero ter, enfim, serenidade.

domingo, 16 de agosto de 2009

Nadador noturno

Um som de piano no ar. Os cabelos molhados, batendo na altura da terceira vértebra cervical. Os pingos, frios, escorrendo na pele que teima em estar quente, ainda assim. É a noite. É o reflexo da lua. É a matéria abstrata da melodia, incomparável, pois nada pode ser tão bonito quanto o que não se toca. A árvore frondosa pertence ao chão em que está enraizada. O quadro pertence à parede em que se fixa, pra que fique visível a nossos olhos. A melodia pertence ao mundo. Pertence ao vento, quem sabe. A cabeça agora se debate, como o corpo de um cachorro após o banho, pra que os pingos ganhem vida, numa tempestade mansa. Olhos fechados pro mergulho. A escuridão é quase total. Mas está lá o sol, do outro lado do mundo, ajudando a enxergar por aqui do jeito mais bonito, pois que sem tanta precisão, sem que precise ofuscar. Um corpo nu brinca na água, do modo mais puro, retrodevolvido ao ventre materno. E se arrepia, mas não é frio, nem medo. É só a emoção do reencontro. É só um corpo, deposto das roupas, chorando por ser outra vez o que foi desde sempre. E nada, desengonçado como deve ser na água um corpo sem guelras ou natatórias. Um corpo humano, na água, no quase-breu. É só isso que ele é. E brinca, enquanto faz poesia sem saber.

* Depois de ouvir "Nightswimming" do R.E.M.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Fotos da Minha Vida - 2

Capítulo 2. Estou eu no meio de uma turma. Eram fisioterapeutas. Depois era uma turma de relaxamento corporal. Acabou sendo uma equipe de teatro. Este é o fim de uma das apresentações.




A Peça, escrita e dirigida por mim, que também atuei, era um musical, com deficientes mentais inclusos, que passava mensagens de superação, luta contra preconceito e rabiscava a real missão d eum fisioterapeuta.

Não sou fisioterapeuta. Fui adotado por esta turma, quase toda de mulheres, para que eu pudesse viver ao menos uma grande história nos meus tempos desempregados e solteiros de faculdade.

Eu queria ter cortado o cabelo. ter comprado uma calça preta menos apertada. A bata branca era emprestada. Não lembro mais o nome de mais da metade dessas pessoas. Nunca soube onde moravam, exceto tês ou quatro. E no entanto fui tão íntimo de cada uma delas que não posso nem medir.

Este era o desfecho. O desfecho de algo que nunca se repetiu. Foram 4 apresentações, mais 2 ensaios gerais, nesse mesmo dia. Saí rouco, fedido, e com a leve impressão de que nunca fui tão feliz por causa de uma realização própria.

Era um Leandro possível, esse do teatro. É um Leandro que sempre insinua-se para renascer. E de certo irá. Minha mãe sorria nesse dia de um jeito que não esqueço. Quero ver aquele sorriso de novo. São poucas as coisas que eu consigo proporcionar à ela.

E diante dessa foto e dessa lembrança, a verdade é que proporciono poucas coisas para mim mesmo. Depois dessas apresentações, o grupo se desfez. Minha única tatuagem nasceu em função disso. Uma lembrança para quando eu ficar velhinho e não lembrar mais tão claramente de cada ato.

Num tempo em que envelheço de forma tão acelerada, ver essa foto me deixa 5 minutos mais novo.