sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Setembro

Chegou setembro. Hora de achar uma hora pra passar na minha rua e visitar a amoreira que plantei em frente à antiga casa. Me sinto um insensível se deixo passar um ano sem visitá-la, mas sou insensível de toda forma, porque nunca desci do carro nas visitas.

O asfalto não vai ser como era se eu pisá-lo agora. Se eu acender um cigarro e contemplar, nada há de acontecer com o palato que sente aquelas amoras tão mortalmente reais em dias impossíveis.

Mas eu poderia, claro, ao menos olhar pra ela, ou pra sombra dela. Espiar o portão da Dona Terezinha, talvez tentar saber se ela está viva. Não deve estar. Nem os sonhos do neto dela, de ser piloto de avião. A amoreira, entretanto, aparentemente está viva e saudável.

Lembro que plantei. Reguei. Dona terezinha ensinou. Depois disso me foge qualquer lembrança, até que eu apareça já grandinho. Ela era a marca, a estrela da rua. Nunca paguei um centavo para ter amoras. Ela me servia. Como serviu a centenas, milhares, velhos e crianças.

Eu poderia descer do carro, correr e subir nela. Encher as mãos de amoras. Não faço, porque sei que a vida já ficou previsível demais pra mim. Tudo morre um pouco quando você encontra numa prateleira.

Não subo na amoreira porque não vai ser divertido como era.

Mas também não posso esquecê-la.

Não posso ser curioso sobre o que já perdeu a magia.

Já já chega dezembro, e sinto o mesmo com o mar que um dia mergulhei.

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